Você deseja realmente ajudar alguém?

 

Postado em 17 de julho de 2018

 

 

 

Penso que é importantíssimo ajudar e apoiar as pessoas em momento difíceis, principalmente diante de questões e problemas existenciais, cujo crescimento, diante da vida que estamos levando é uma realidade da qual não podemos, simplesmente, passar por cima. Muitas pessoas precisam de ajuda e muitas querem ajudar. É totalmente possível somar para que nossos semelhantes encontrem seus caminhos de alegria e felicidade. Certamente, podemos fazer muito mais do que estamos fazendo. A questão mais importante é: o que fazer para realmente ajudar? É óbvio que existem casos que precisam de ajuda profissional, porém acredito que, por amor, podemos fazer parte dessa soma.

 

 

 


Estou abordando o tema, porque vejo muitas pessoas tentando ajudar por meio de conselhos, dizendo o que as pessoas precisam fazer para resolverem seus problemas. Esta é uma situação muito corriqueira hoje em dia e que não tem dado muito certo, seja para quem aconselha, seja para quem recebe os conselhos. Em outras palavras, as vidas de ambos têm sofrido efeitos negativos. Por exemplo, de nada adianta você não ter coragem para "se jogar na vida", enfrentar seus fantasmas, ser livre de fato, romper com seus tabus e paradigmas e querer incentivar a outra a fazer isso. Não fale ou não exija que as pessoas façam aquilo que você não foi capaz de fazer. Mais importante que o resultado, é o processo. Se seu resultado não foi bom, talvez, você não seja a pessoa mais indicada para determinar o processo. Vale refletir. O mesmo vale pata o oposto, ou seja, não desencoraje as pessoas porque você não teve coragem de ir adiante, pois isso é tão ruim quanto.

Por meio de algumas conversas que mantenho, muito por causa do meu site e dos meus artigos que lá estão publicados, venho percebendo alguns problemas de pessoas que buscam se aconselhar com as outras. A questão é que precisamos levar as pessoas a reflexões e não dizer o que elas têm ou não que fazer. É muito importante entender que as pessoas precisam chegar às suas próprias conclusões. Pode parecer clichê, mas em questões e problemas existenciais, não temos que dar o peixe, muito menos fornecer a vara, o anzol ou isca. O certo é mostrar que a pessoa tem plena capacidade de pescar, porque tem totais condições de providenciar isso tudo. Neste caso específico, a ilustração é perfeita, porque as pessoas precisam pescar suas respostas e soluções dentro delas mesmas.

Precisamos estimular as pessoas e, para que tudo flua bem, também precisamos ser estimulados (permitir e buscar estímulos) constantemente, nos mais diversos campos da vida. Precisamos fluir em nós para estimular que as pessoas fluam nelas mesmas aquilo que estamos levando até elas. A questão central para quem está tentando ajudar é que, se a outra pessoa não entender que, em última análise, tudo dependerá dela, não há a menor chance de algo acontecer. Você pode dar os melhores conselhos, com as melhores das intenções, que de nada adiantarão. Pode ser que por algum momento a coisa funcione, mas, certamente, logo passará.

Em que pese estarmos vivendo a era da comunicação fácil, da aproximação intensa por meio das diversas redes sociais e aplicativos, a verdade é que as relações estão cada vez mais líquidas. As pessoas estão vivendo para fora ao extremo. Os egos têm assumido protagonismos constantes e em aspectos relevantes da vida. As pessoas estão se preenchendo do que vem de fora e não buscando seus preenchimentos internos. Estão olhando muito para as outras e cada vez menos para si.

Acontece que, com efeito, no momento em que realmente precisam de algum apoio, as pessoas estão encontrando apenas solidão. A imensa maioria das pessoas se sente só. Muitas não admitem, mas é fato que se sentem. E a sensação de solidão é algo muito ruim, por vezes desesperadora, porque somos seres interdependentes. A verdade é que aparelhos de telefone e computadores não nos fazem companhia e não substituem o ser humano, quando estamos diante de problemas.

Se você deseja realmente ajudar alguém, o primeiro passo é controlar seu próprio ego. Não queira se colocar em um pedestal ou trazer para o ambiente ares de superioridade. Sim, existe o risco da outra pessoa não absorver mensagem e você precisa aceitar este fato. Se isso ocorre com profissionais, imagine com quem não tem formação acadêmica para tal. Uma vez controlado seu ego, você já deu o primeiro grande passo.

Algo muito ligado ao ego é o desejo de levar as pessoas para alguma religião, principalmente a de quem está ajudando. Sinceramente, penso que este não é o momento apropriado. Penso ser importante falar em Deus, em espiritualidade, em oração, mas tudo isso sem forçar barra, sem exageros. Trago por princípio que a busca da espiritualidade tem que ser totalmente consciente e não por ansiedades ou desesperos. Penso que precisa ser por livre e espontânea vontade; por amor, mas nunca pela dor.

É muito importante buscar acalmar a pessoa. Não há como evoluir sem calmaria. Busque levar paz de espírito e não ansiedades. Por isso é importante você controlar seu ego. Porque o ego transmite ansiedades às pessoas.

Devemos permitir, com o uso da calma, que a pessoa entenda que aquilo que está acontecendo com ela, mesmo que os efeitos sejam sentidos de formas diferentes de pessoa e para pessoa, pode acontecer com qualquer um, pois não é exclusividade dela. E realmente pode, isso não é uma inverdade. É fundamental que a pessoa perca a sensação de que está só. Lembra quando falei sobre solidão acima? Busque uma relação sólida de amor, carinho, amizade, compreensão, cumplicidade, proximidade, disponibilidade e, fundamentalmente, de igualdade. Seja apenas tão humano quanto ela. Muitas vezes as pessoas precisam apenas se sentir acolhidas.

Seja ouvinte e observador. Busque entender e compreender a pessoa. Estimule que ela fale sobre o que está sentindo. Quando colocamos para fora o que estamos sentindo, conseguimos pensar sobre a questão ou problema que vem nos afetando. Ao colocar para fora tudo que nos faz sofrer, acabamos refletindo e, consequentemente, enxergando tudo com maior nitidez, o que permite que encontremos nossas próprias respostas e soluções.

Além disso, quando ouvimos e observamos, conseguimos identificar na pessoa suas potencialidades, qualidades e tudo que ela tem de bom. Tão importante quanto se atentar ao problema, é perceber tudo aquilo que a pessoa tem de positivo (todas têm muitas coisas maravilhosas dentro de si). Aquilo que cada pessoa traz de positivo, é muito importante. O combate do negativo se faz com o positivo. Devemos levar otimismos reais. É totalmente possível.

Jamais determine o que a pessoa tem que fazer. O ideal é que façamos perguntas, para que estimulemos respostas (não temos que encontrar respostas por elas ou para elas). A questão aqui é que as perguntas precisam ser coerentes, suaves e contextualizadas com aquilo que a pessoa está colocando para fora, seja por meio de palavras, seja por gestos. Dificilmente, uma pessoa que está vivendo um problema, tomada por medos e ansiedades, fará aquilo que você disser. Portanto, não perca tempo tentando enfiar conselhos goela abaixo de quem quer que seja, até porque, muitos deles podem estar no rol de coisas que você jamais faria ou não tem condições de fazer. Você pode usar afirmativas, mas sempre deixando a pessoa a vontade. Não force nada.

A sinceridade é fundamental. Lembra que eu mencionei em ser ouvinte e observador? Então, a partir do que você realmente enxergar de potencialidades e qualidades deve ser afirmado para a pessoa. Ela sabe disso, mas reafirmar traz a segurança que precisa, porque de fato, alguém enxergou isso nela. Ser sincero é fundamental, porque, por mais que as pessoas estejam passando por problemas, elas continuam conscientes. Portanto, não invente qualidades que a pessoa não tem. Busque estimular o amor-próprio, a segurança, a autoestima, a autoaceitação, a partir do que você observou na pessoa.

Tenha paciência. Se a pessoa retrucar aquilo que você está falando, não conteste, pois ela está no direito dela. Apenas pare, dê um tempo e busque o melhor momento para retomar o assunto, de preferência, se a pessoa desejar voltar ao assunto. O mais importante é ela saber que não está sozinha. Não force nada. Neste ponto, o controle do ego de quem está ajudando é importante, conforme mencionado acima. Muita calma, sempre, pois já vi casos que a pessoa que estava se propondo a ajudar acabou brigando e piorando ainda mais a situação da outra.

Entenda que, ao se propor a ajudar uma pessoa, ela e você estão entrando em um processo que, certamente e, portanto, terá nuances. As coisas não se resolvem do dia para a noite. Requer tempo para que sejam sedimentadas. Tenha consciência disso. Busque se conhecer para saber se terá disposição de ir até onde for necessário.

Busque estimular. As pessoas, muitas vezes, sabem o que precisam fazer para resolver os seus problemas. Não as trate como hipossuficientes. Elas têm consciência. O que precisamos fazer é levar os estímulos para que elas criem consciência de que são conscientes. Tudo precisa fluir e, para tal, devemos buscar tirar pesos e pressões. Tudo precisa ser leve. Lembre-se que os problemas diminuem de tamanho quando tiramos a ansiedade dele.

Enfim, quando se propuser a ajudar alguém, lembre-se que você não é o protagonista da história. Não se trata da sua história, mas sim da dela. Não interfira nisso. Não viva isso. Não se envolva com a história. Apenas esteja com a pessoa para que ela saiba que não está sozinha. Se estiver presente, abrace-a. Se estiver distante, faça com que se sinta abraçada.

Lembre-se, não é ofensivo, muito menos o fim do mundo, fazer a pessoa enxergar que é necessário buscar ajuda profissional. Isso também é uma baita ajuda que você pode dar. Afinal de contas, o sentido de ajudar é apenas ver a pessoa feliz.

 

Por Prem Prabhu