Sexo e prazer como meios

 

Postado em 10 de julho de 2017

 

É inegável que hoje estamos vivendo um tempo de sexo totalmente mecanizado. A maioria dos homens estabeleceu um roteiro: alguns poucos beijos; sexo oral, com estímulo clitoriano direto e intenso, como forma de fazer a mulher chegar ao orgasmo rapidamente (que muitas vezes gera agonia e não necessariamente prazer) e; penetração extremamente limitada.

Nós homens estamos enxergando o orgasmo feminino como fim, objetivando apenas reafirmar nossa masculinidade, para dizer: eu sou o cara; sou macho e bom de cama; faço as mulheres gozarem. As vezes gostamos de trazer posições como novidades, igualzinho aos atores se filmes pornôs. Mas, tudo é sempre mecânico. Tudo muito obrigacional. Virou trabalho com roteiros e protocolos. Banalizamos o sexo.

 



Nós somos previsíveis no sexo, segundo as mulheres. Elas já sabem exatamente o roteiro que seguiremos. Na realidade, viramos atores de um filme pornô próprio. Vamos combinar? 99,999% dos filmes pornôs não trazem novidades, não é mesmo?

Perdi a conta de quantas pacientes já relataram fingir orgasmos para dar fim ao ato sexual, por não aguentarem mais a situação. Muitas delas usam como tática gritos de prazer e elogios, o que satisfaz os egos dos homens, segundo elas. Relataram agonias, às vezes tédios.

Esses relatos são feitos por mulheres em diversas faixas etárias, ou seja, 60, 50, 40, 30 e 20 anos. Isso demonstra que os comportamentos não estão mudando com o passar com tempo. A coisa se propaga geração após geração. Mesmo em tempos ditos como de liberdade sexual total.

As pessoas não estão sabendo lhe dar com as suas energias sexuais. Não estão sabendo lhe dar com aquela força imensa que emana de seus corpos. Não estão sabendo viver todo aquele calor que toma conta do corpo inteiro. Aqui o importante: as pessoas estão querendo cessar a energia, deixando de aproveita-la.

O orgasmo usual é uma forma muito eficiente de cessar totalmente, ou grande em parte, a circulação dessa energia incrível. Isso faz com que as pessoas se relacionem mecanicamente, iniciando tudo com foco no fim. E nós homens estamos nessa sistemática, mergulhados em nossos egos de machos, trabalhando, fazendo sexo, em vez de viver o sexo.

Falamos que as mulheres são complicadas. Não concordo com isso e digo que temos muito a melhorar e que podemos deixar de lado o que aprendemos até aqui e transformar nossos comportamentos.

O sexo não deve ter início, meio e fim. Essa é a primeira regra que deve ser quebrada. O sexo é um meio. Sempre um meio. Ela não começa e não termina. Ele está sempre ali.

A segunda regra vai no mesmo sentido e diz respeito ao orgasmo: o orgasmo não deve ser encarado como um fim, mas sim como um meio. Passemos a pensar em uma relação orgástica, de eterna satisfação. E não em um grande final de prazer.

A terceira regra que deve ser quebrada é a da pressa de se atingir ápices, ou seja, deixar as ansiedades de lado. A energia sexual que corre em nós, traz a sensação de que temos sempre que ir adiante, acelerando cada vez mais nosso passos rumo a uma grande explosão. Corremos tanto nesse percurso que, sequer, paramos para prestar atenção no quão deliciosa ela é. Não permitimos que essa energia flua naturalmente. Estamos sempre em busca do controle sobre ela. Aqui a respiração se faz fundamental.

Mais regras devem ser quebradas. Na realidade são paradigmas a serem diluídos. Nós homens temos mais paradigmas a serem diluídos do que as mulheres. Elas são oprimidas e reprimidas pela sociedade. Porém, até mesmo por isso, muito mais suscetíveis à transformações do que nós, por quanto seus egos interferem menos nas relações.

Outros textos virão. Mas, quem leu meus textos publicados anteriormente, entenderá o que quero dizer.

 

 

Por Prem Prabhu