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Quando estamos passando por problemas, angústias,
ansiedades e tristezas, as últimas coisas que
desejamos ouvir são aqueles conselhos que soam como
se fossem de prateleira: "você tem que reagir", "só
você poderá mudar isso", "busque Deus", "busque uma
religião", “se você não se valorizar, ninguém a
valorizará", dentre outros tantos. E isso tudo sem
que nos deixem respirar e falar. Uma sufocação só.
A questão é que as pessoas nunca (ou quase
nunca) dão esses conselhos por mal, mas sim com
vontade de ajudar, com as melhores intenções. Porém,
as melhores das intenções podem não ser as melhores
soluções e, muitas vezes, diria na maioria, de fato
não são. Não entrarei no mérito de crenças e
religiões, porque cada um tem a sua e acredito que
são coisas que não cabem em discussões.
Porém não posso deixar de concordar, pelo menos em
parte, com aqueles conselhos que levam até nós a
mensagem de que a solução depende de nós. Penso que
a forma mais correta de se levar mensagem é permitir
que a pessoa enxergue que a solução depende mais
dela do que ela imagina. Veja que devemos levar a
mensagem e não falar isso diretamente. Levar a
mensagem quer dizer estimular, para que a pessoa
chegue a esta conclusão. Quando desejamos ajudar,
não devemos ter pressa, não podemos ser ansiosos e
criar fluxos das energias da ansiedade com a outra
pessoa. Temos que estar prontos para observar e
ouvir, e isso requer paciência, requer calma. A
calma é energia e energia precisa de fluxo. Então, o
importante neste momento é entramos em calmaria para
gerar esse fluxo com a outra pessoa.
Já
passei por problemas e muitos sofrimentos também.
Afinal, a vida é bela, mas tem suas nuances e está
bem longe de ser perfeita. Faço ideia de como as
pessoas se sentem ao carregar a sensação de
impotência na busca por soluções. Faço ideia de como
é estar preso em sofrimentos. No entanto, fazer
ideia não é o bastante, pois cada pessoa sente de
maneira única sua dor.
Sei muito bem que os
conselhos que soam como de prateleira, muitas vezes,
nos deixam irados. Aí surgem dentro de nós aquelas
perguntas e pensamentos, tais como: "o que ela está
pensando? Que sabe de tudo?" - "O que ela acha? Que
sou um(a) fraco(a)?" - "Queria ver o que ela faria
no meu lugar!" - "Falar é fácil!", dente outros.
Realmente é irritante, concordo plenamente. Já senti
está irá muitas vezes.
Seria bem melhor se as
pessoas ouvissem e observassem mais quem está
passando pelo problema, em vez de dar conselhos que
soam como de prateleira. Ouvir nos leva a entender.
Ouvir nos dá a oportunidade de proferir palavras que
levem as pessoas às reflexões. Quando uma pessoa
para e consegue refletir, certamente ela encontrou
algum ponto de calmaria. A calma é o melhor ponto de
partida, pois significa que a mente está menos tensa
e pesada, portanto, propícia a enxergar e encontrar
soluções. A calma é o eixo central da mente e, por
sua vez, a mente é o nosso eixo central.
É
necessário deixar a pessoa colocar para fora o que
está sentindo. O momento que uma pessoa em
sofrimento está colocando tudo para fora é
importantíssimo, porque ela está olhando para dentro
dela e, ao fazer isso, a pessoa pode sim encontrar
suas próprias respostas e pode sim chegar à
conclusão de que a solução depende mais dela do que
ele imagina.
Não é o melhor caminho entupir
as pessoas que estão vivendo um momento ruim com
palavras, conselhos, críticas, contestações, ou de
tentar catequizá-las. O momento é de ouvir, de
estimular que elas reflitam, e não o de criar ainda
mais pressões. Deixá-las falar permite que elas
pensem sobre o que estão vivendo. Devemos falar para
provocar reflexões. Perguntas contextualizadas com o
que elas estão externando são excelentes para
ajudar.
Não queira ser aquela(e) que vai
salvar a outra pessoa. Não tenha a pretensão de
querer ter o dom da palavra. Queira apenas ajudar
com seu amor. Não é uma questão de alimentar seu
ego. Lembre-se, a solução depende de cada um, mais
do que imaginamos. Então observe, entre em calmaria
e crie esse fluxo. Tudo já deu certo.
Por Marcelo

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