Para quem você vive?

 
       
 

De nada adianta você desejar as melhores energias ao universo, às pessoas ou a seja lá o que for, se este desejo não recai primeiro sobre você, de maneira profunda e verdadeira. Também não adianta nada fazer tudo para os outros e pelos outros, servir aos seus semelhantes, se nisso não tem você como prioridade.

Colocar-se em segundo plano, pode até oferecer momentos de êxtase e alegria, porque, de forma muitas vezes imperceptível, é um bom alimento para o Ego. Porém, basta a pessoa servil ficar sozinha consigo, parar, e refletir sobre o ponto que está a sua vida que logo vem aquele vazio, aquela tristeza, angústia ou ansiedade. O comportamento do Ego é muito interessante, pois, quando você começa a fazer suas reflexões, ele adormece. O Ego é um preenchimento virtual. Não há conteúdo algum no Ego capaz de te preencher.

Ao longo desses anos, conheci muitas pessoas, principalmente mulheres, que sempre se colocaram em segundo plano - aliás, mulheres, na média, têm grandes propensões em se colocarem nesta posição - e sempre afirmei que este era justamente o que impedia muitas delas de ir adiante no que desejavam para suas vidas.

Muitas me questionavam, às vezes duramente, se minha proposta é para que elas se tornassem seres egoístas. Estavam tão a acostumadas a se colocar em segundo plano, que não conseguiam enxergar que não há egoísmo algum em se tornarem suas grandes prioridades.

Não há egoísmo algum em se priorizar, pois isso pode perfeitamente ser colocado em prática, sem Ego e com muito amor, a começar pelo amor-próprio. Se priorizar, é uma busca por aquilo que faça seu coração vibrar; por aquilo que faça tudo pulsar em você; por aquilo que faça suas angústias e ansiedades escorrerem ralo; por aquilo que permita que você se enxergue, e enxergue a vida de forma cristalina para que consiga buscar sua evolução.

Já vi muitas pessoas que se colocavam como sendo altruístas, se colocando, na verdade, em segundo plano para alimentar seus Egos. Sim, vale parar e refletir se seu altruísmo não está causando apenas sensações de preenchimentos de espaços vazios em você, justamente em pontos que deveriam ser preenchidos pela sua essência, pelo seu eu. Vale parar e refletir até que ponto seu Ego não está te movendo para que você esteja no segundo plano da sua própria vida.

Vejo muitas religiões e até filosofias de vida pregando que devemos pensar nos nossos semelhantes antes de nós. Pessoalmente, acho isso um desastre para a vida de quem quer que seja. É uma forma de fazer com que as pessoas inflem seus Egos, esqueçam de si e se entreguem por inteiro às próprias religiões e filosofias, sem consciência alguma, levando junto, não só suas existências, mas também suas almas, dinheiros e bens materiais.

Certa vez, conheci uma mulher religiosa que estava muito triste. Ela dedicava sua vida às pessoas, esquecendo-se de si, da sua sexualidade, da sua feminilidade, da sua relação e de tudo mais que de fato era realmente relevante para sua vida. Quando a questionei sobre as motivações que a faziam cuidar dos outros e esquecer-se de si, ela me disse que aquilo a empoderava, que a fazia se sentir útil e importante.

No contexto da nossa conversa, quando eu afirmei que ela estava fazendo tudo movida pelo Ego, sua primeira reação foi a de falar que eu estava redondamente enganado. O Ego é tão complexo, que ele se defende. Então, eu questionei que se ela tirasse a atividade religiosa da sua vida, encontraria um enorme vazio, pois o EU dela não estava sendo preenchido por ela, mas sim pela sensação de empoderamento que ela mencionou e destacou.

A questão é que, mesmo se sentindo útil e importante, ela estava sofrendo pelo ponto que a vida dela se encontrava. Foi quando eu disse que ela estava preenchida pelo Ego e que aquilo estava causando um vazio enorme nela; que se ela estivesse fazendo aquilo que era realmente importante para ela, não estaria sofrendo; que se ela estivesse fazendo aquilo pelo transbordamento do seu amor-próprio, estaria feliz de fato.

Falei que ela tinha que se mover por ela mesma; que tudo que ela queria resgatar e transformar deveria partir do EU dela. É óbvio que, de início, ela não assimilou isso muito bem, mas, com o tempo, o entendimento veio.

 

Então, com o passar do tempo, bem aos poucos, ela acordou e passou a se priorizar, a se cuidar, a ver que ela era mais importante que tudo e todos, que era útil, sem depender de atividade religiosa alguma, sem depender de nada nem ninguém. Por iniciativa própria, ela deu um tempo no seu trabalho religioso e decidiu se cuidar. Passou a se priorizar de fato. Ela sentiu, um grande vazio inicial, e passou aos poucos a se preencher dele mesma.

Aqui tem um ponto crucial: nada ocorre de uma hora para outra, num estalar de dedos. Processos são naturalmente lentos, realizados um dia de cada vez. Você não pode olhar para os resultados no dia seguinte, considerando o anterior. O comparativo sempre tem que se dar com o ponto de partida.

O tempo passou e ela voltou ao seu trabalho religioso, com a mente focada no seu eu, consciente de quem era e do que precisava fazer. Passou a compartilhar com as pessoas que ela ajudava uma energia ainda melhor, contagiante, criando fluxos favoráveis e ela, tudo aquilo que antes não era possível. Entendeu que ela deveria transmitir o mesmo às pessoas que ela ajudava, pois muitos dos problemas que elas enfrentavam, passavam pela falta de prioridade aos seus EUs. Esta é uma história verídica que serve para revelar e alertar sobre tantas outras que estão acontecendo neste momento, causando muitos sofrimentos.

Quando falo em se colocar em primeiro lugar, falo de algo completo; algo total. Você não pode colocar seus filhos, companheiros e família na sua frente, pois, em algum momento, eles sentirão falta de você. As mulheres, principalmente, têm grande dificuldade em se priorizar, quando se coloca os filhos e a família em questão. Acham que serão relapsas, que faltarão e que serão egoístas, se não estiverem em segundo plano. Este, tenho certeza, é o grande desafio delas.

Mas, a questão é que as mulheres precisam entender que quando mais preenchidas de si elas estiverem; quanto melhor elas estiverem, mas importantes elas serão para seus filhos, suas filhas e suas famílias. Elas passarão a somar em qualidade e não mais em quantidade.

Eis aqui a grande questão: somar em quantidade ou em qualidade? Ora, somar em quantidade, fará com que essa soma absorva suas energias, seu tempo de vida e, certamente, quantidade pede cada vez mais quantidade de energia e tempo. Já somar com qualidade, estando bem, torna tudo bem mais leve, inclusive para quem está recebendo sua ajuda e dedicação.

Enquanto você não buscar se amar, se aceitar, se compreender, se respeitar, se perdoar, ser paciente consigo, confiar e acreditar em si, nada mudará em sua vida. Você pode buscar filosofias de vida, religiões, espiritualidades, que nada fará o efeito que realmente atenda suas necessidades. Você apenas precisa perceber que, se amar, é sua maior necessidade.

É preciso encarar uma realidade nua e crua: não se priorizar é o maior erro que uma pessoa pode cometer, principalmente as mulheres. Lembro que, quando era criança, perguntei à minha mãe qual era a pessoa que ela mais amava. Certamente, esperava que ela respondesse que era eu. Mas, para minha surpresa, ela disse que era ela a pessoa que ela mais amava. Na hora aquilo me chocou, mas sempre constatei que, mesmo ela se priorizando, jamais foi ausente e jamais deixou de compartilhar amor comigo. Fui criado em um ambiente matriarcal e o Tantra nada mais foi do que um encontro que tive com a minha forma de criação.

Em ambientes patriarcais, que são repressores, não acolhedores e antisensoriais, as mulheres são compelidas a priorizar tudo e todos, se colocando em último lugar e, sem opção, buscam apoios em seus Egos para, de alguma forma, sobreviverem. Só que sobrevivência não é vida e muitas, hoje em dia, até mesmo em relações tida como modernas, estão sofrendo, pois a essência é a mesma, ou seja, patriarcal. A questão aqui é que, mais cedo ou mais tarde, a realidade bate à porta.

Viva mais! Viva para você, entendendo que todas as pessoas próximas fazem apenas parte da sua vida, umas muito importantes, outras menos, mas que não são a sua vida. A sua vida pertence a você e a mais ninguém.

Se você leu este texto e percebeu que está se colocando em segundo plano, peço que reflita bastante e não saia tomando decisões precipitadas e radicais, para não trocar os pés pelas mãos. Acalme-se, reflita e observe tudo, principalmente os detalhes, para que reverta essa realidade aos poucos a aprenda a entender que o grande amor da sua vida é você mesma.

Prefiro parar por aqui e deixar que as pessoas, as que se dispuseram a ler este artigo até o final, façam suas reflexões e se perguntem: Para quem eu vivo?

 

Por Marcelo