|
De nada adianta você desejar as melhores energias ao
universo, às pessoas ou a seja lá o que for, se este
desejo não recai primeiro sobre você, de maneira
profunda e verdadeira. Também não adianta nada fazer
tudo para os outros e pelos outros, servir aos seus
semelhantes, se nisso não tem você como prioridade.
Colocar-se em segundo plano, pode até oferecer
momentos de êxtase e alegria, porque, de forma
muitas vezes imperceptível, é um bom alimento para o
Ego. Porém, basta a pessoa servil ficar sozinha
consigo, parar, e refletir sobre o ponto que está a
sua vida que logo vem aquele vazio, aquela tristeza,
angústia ou ansiedade. O comportamento do Ego é
muito interessante, pois, quando você começa a fazer
suas reflexões, ele adormece. O Ego é um
preenchimento virtual. Não há conteúdo algum no Ego
capaz de te preencher.
Ao longo desses anos,
conheci muitas pessoas, principalmente mulheres, que
sempre se colocaram em segundo plano - aliás,
mulheres, na média, têm grandes propensões em se
colocarem nesta posição - e sempre afirmei que este
era justamente o que impedia muitas delas de ir
adiante no que desejavam para suas vidas.
Muitas me questionavam, às vezes duramente, se minha
proposta é para que elas se tornassem seres
egoístas. Estavam tão a acostumadas a se colocar em
segundo plano, que não conseguiam enxergar que não
há egoísmo algum em se tornarem suas grandes
prioridades.
Não há egoísmo algum em se
priorizar, pois isso pode perfeitamente ser colocado
em prática, sem Ego e com muito amor, a começar pelo
amor-próprio. Se priorizar, é uma busca por aquilo
que faça seu coração vibrar; por aquilo que faça
tudo pulsar em você; por aquilo que faça suas
angústias e ansiedades escorrerem ralo; por aquilo
que permita que você se enxergue, e enxergue a vida
de forma cristalina para que consiga buscar sua
evolução.
Já vi muitas pessoas que se
colocavam como sendo altruístas, se colocando, na
verdade, em segundo plano para alimentar seus Egos.
Sim, vale parar e refletir se seu altruísmo não está
causando apenas sensações de preenchimentos de
espaços vazios em você, justamente em pontos que
deveriam ser preenchidos pela sua essência, pelo seu
eu. Vale parar e refletir até que ponto seu Ego não
está te movendo para que você esteja no segundo
plano da sua própria vida.
Vejo muitas
religiões e até filosofias de vida pregando que
devemos pensar nos nossos semelhantes antes de nós.
Pessoalmente, acho isso um desastre para a vida de
quem quer que seja. É uma forma de fazer com que as
pessoas inflem seus Egos, esqueçam de si e se
entreguem por inteiro às próprias religiões e
filosofias, sem consciência alguma, levando junto,
não só suas existências, mas também suas almas,
dinheiros e bens materiais.
Certa vez,
conheci uma mulher religiosa que estava muito
triste. Ela dedicava sua vida às pessoas,
esquecendo-se de si, da sua sexualidade, da sua
feminilidade, da sua relação e de tudo mais que de
fato era realmente relevante para sua vida. Quando a
questionei sobre as motivações que a faziam cuidar
dos outros e esquecer-se de si, ela me disse que
aquilo a empoderava, que a fazia se sentir útil e
importante.
No contexto da nossa conversa, quando eu afirmei que
ela estava fazendo tudo movida pelo Ego, sua
primeira reação foi a de falar que eu estava
redondamente enganado. O Ego é tão complexo, que ele
se defende. Então, eu questionei que se ela tirasse
a atividade religiosa da sua vida, encontraria um
enorme vazio, pois o EU dela não estava sendo
preenchido por ela, mas sim pela sensação de
empoderamento que ela mencionou e destacou.
A
questão é que, mesmo se sentindo útil e importante,
ela estava sofrendo pelo ponto que a vida dela se
encontrava. Foi quando eu disse que ela estava
preenchida pelo Ego e que aquilo estava causando um
vazio enorme nela; que se ela estivesse fazendo
aquilo que era realmente importante para ela, não
estaria sofrendo; que se ela estivesse fazendo
aquilo pelo transbordamento do seu amor-próprio,
estaria feliz de fato.
Falei que ela tinha
que se mover por ela mesma; que tudo que ela queria
resgatar e transformar deveria partir do EU dela. É
óbvio que, de início, ela não assimilou isso muito
bem, mas, com o tempo, o entendimento veio.
Então, com o passar do tempo, bem aos poucos, ela
acordou e passou a se priorizar, a se cuidar, a ver
que ela era mais importante que tudo e todos, que
era útil, sem depender de atividade religiosa
alguma, sem depender de nada nem ninguém. Por
iniciativa própria, ela deu um tempo no seu trabalho
religioso e decidiu se cuidar. Passou a se priorizar
de fato. Ela sentiu, um grande vazio inicial, e
passou aos poucos a se preencher dele mesma.
Aqui tem um ponto crucial: nada ocorre de uma
hora para outra, num estalar de dedos. Processos são
naturalmente lentos, realizados um dia de cada vez.
Você não pode olhar para os resultados no dia
seguinte, considerando o anterior. O comparativo
sempre tem que se dar com o ponto de partida.
O tempo passou e ela voltou ao seu trabalho
religioso, com a mente focada no seu eu, consciente
de quem era e do que precisava fazer. Passou a
compartilhar com as pessoas que ela ajudava uma
energia ainda melhor, contagiante, criando fluxos
favoráveis e ela, tudo aquilo que antes não era
possível. Entendeu que ela deveria transmitir o
mesmo às pessoas que ela ajudava, pois muitos dos
problemas que elas enfrentavam, passavam pela falta
de prioridade aos seus EUs. Esta é uma história
verídica que serve para revelar e alertar sobre
tantas outras que estão acontecendo neste momento,
causando muitos sofrimentos.
Quando falo em
se colocar em primeiro lugar, falo de algo completo;
algo total. Você não pode colocar seus filhos,
companheiros e família na sua frente, pois, em algum
momento, eles sentirão falta de você. As mulheres,
principalmente, têm grande dificuldade em se
priorizar, quando se coloca os filhos e a família em
questão. Acham que serão relapsas, que faltarão e
que serão egoístas, se não estiverem em segundo
plano. Este, tenho certeza, é o grande desafio
delas.
Mas, a questão é que as mulheres
precisam entender que quando mais preenchidas de si
elas estiverem; quanto melhor elas estiverem, mas
importantes elas serão para seus filhos, suas filhas
e suas famílias. Elas passarão a somar em qualidade
e não mais em quantidade.
Eis aqui a grande questão: somar em quantidade ou em
qualidade? Ora, somar em quantidade, fará com que
essa soma absorva suas energias, seu tempo de vida
e, certamente, quantidade pede cada vez mais
quantidade de energia e tempo. Já somar com
qualidade, estando bem, torna tudo bem mais leve,
inclusive para quem está recebendo sua ajuda e
dedicação.
Enquanto você não buscar se amar,
se aceitar, se compreender, se respeitar, se
perdoar, ser paciente consigo, confiar e acreditar
em si, nada mudará em sua vida. Você pode buscar
filosofias de vida, religiões, espiritualidades, que
nada fará o efeito que realmente atenda suas
necessidades. Você apenas precisa perceber que, se
amar, é sua maior necessidade.
É preciso
encarar uma realidade nua e crua: não se priorizar é
o maior erro que uma pessoa pode cometer,
principalmente as mulheres. Lembro que, quando era
criança, perguntei à minha mãe qual era a pessoa que
ela mais amava. Certamente, esperava que ela
respondesse que era eu. Mas, para minha surpresa,
ela disse que era ela a pessoa que ela mais amava.
Na hora aquilo me chocou, mas sempre constatei que,
mesmo ela se priorizando, jamais foi ausente e
jamais deixou de compartilhar amor comigo. Fui
criado em um ambiente matriarcal e o Tantra nada
mais foi do que um encontro que tive com a minha
forma de criação.
Em ambientes patriarcais,
que são repressores, não acolhedores e
antisensoriais, as mulheres são compelidas a
priorizar tudo e todos, se colocando em último lugar
e, sem opção, buscam apoios em seus Egos para, de
alguma forma, sobreviverem. Só que sobrevivência não
é vida e muitas, hoje em dia, até mesmo em relações
tida como modernas, estão sofrendo, pois a essência
é a mesma, ou seja, patriarcal. A questão aqui é
que, mais cedo ou mais tarde, a realidade bate à
porta.
Viva mais! Viva para você, entendendo
que todas as pessoas próximas fazem apenas parte da
sua vida, umas muito importantes, outras menos, mas
que não são a sua vida. A sua vida pertence a você e
a mais ninguém.
Se você leu este texto e
percebeu que está se colocando em segundo plano,
peço que reflita bastante e não saia tomando
decisões precipitadas e radicais, para não trocar os
pés pelas mãos. Acalme-se, reflita e observe tudo,
principalmente os detalhes, para que reverta essa
realidade aos poucos a aprenda a entender que o
grande amor da sua vida é você mesma.
Prefiro
parar por aqui e deixar que as pessoas, as que se
dispuseram a ler este artigo até o final, façam suas
reflexões e se perguntem: Para quem eu vivo?
Por Marcelo

|
|
|