Se você reage a provocações, o conflito interno também passa a ser seu
 
       
 

Osho afirmou que devemos nos tornar observadores de nós mesmos, da vida e do mundo. Tornar-se observador, não é algo complexo, basta você se habituar a buscar o estado de calmaria, tal como aqueles 15 minutinhos diários que tanto insisto, momento em que pessoa permanecerá sem fazer nada, de olhos fechados e respirando. No meu site tem textos sobre isso. Então, não serei repetitivo. Osho também afirmou que o silêncio fala. E ele realmente fala muito. Então, contarei uma história para ilustrar a mensagem que desejo passar:

Certa vez, após compreender o que é ser uma pessoa observadora, vivendo de fato esta sensação, passei por uma situação, que certamente muitos já passaram, e que tinha tudo para ser, no mínimo, desgastante, mas que acabou numa tranquilidade enorme.

Por causa de uma ocorrência de trânsito, em que eu cometi um erro na direção, porém sem prejuízos algum, sendo mais pelo susto, um homem se irritou muito, começou a me xingar, xingar minha mãe, falando que ia me bater, fazer e acontecer. Ele estava fora de si, totalmente transtornado. E ficou óbvio, para mim, que o problema não era comigo, mas sim com ele.

Esses xingamentos ocorreram após estacionarmos nossos carros. Ele veio até mim, muito irritado. Fiquei de frente para ele. Fiquei olhando nos olhos dele enquanto ele esbraveja. Naquele momento, relaxei minha mente, comecei a respirar suave e discretamente (sem firulas), sem demonstrar nada, e busquei meu lado observador (todos têm este lado; esta capacidade). Um silêncio tomou conta de mim. Não ouvia o que ele dizia. Só observava as expressões dele os gestos com a boca e com o corpo.

Como o som das agressões não chegavam até a minha mente e eu estava em calmaria, aquela situação mais parecia um filme mudo. Começou a me dar até vontade de rir, pois ele parecia um comediante gesticulando sem parar. Óbvio que não ri, pois, além da situação dele não ser engraçada, não queria irritar ainda mais aquele homem que, claramente, estava sob pressões, estresses e ansiedades, certamente, não gerados pelo meu erro na direção.

Aquela situação levou quase 1 minuto. Em nenhum momento dei as costas para ele. Apenas parei, olhei e observei. Aos poucos, como ele foi percebendo que estava brigando com ele mesmo. Ele começou a baixar o tom até que começou a perceber que ele estava fazendo todo aquele escarcéu sozinho, com as pessoas olhando, numa espécie de plateia.

Entrei no local que estava programado para ir. Ele entrou logo atrás. Ainda ficou me olhando por um tempo, dando aquela encarada de homem feroz, mas depois caiu definitivamente em si e estancou sua irritação. Ele se acalmou, porque a minha postura de tranquilidade o levou à calmaria também.

Se eu tivesse reagido às ofensas e provocações, dando vazão ao meu Ego, certamente problemas aconteceriam, com ele e comigo. Meu Ego ficaria me questionando: você não é isso que ele está falando, muito menos sua mãe, e você pode bater nele, vai levar este desaforo para casa?

A questão é que eu busquei a calmaria, pois me habituei a isso, a partir de mim, com base no que aprendi e que é muito eficiente. Quando entramos nesse estágio de calma absoluta, passando à posição de observadores, seguramos a onda dos nossos Egos, deixando-os quietinhos.

Outro ponto importante desta situação é que, em que pese o som das ofensas não terem atingido minha mente, o fato de eu ter passado a observar a situação com profundidade, me deixou tão atendo aos movimentos dele que, no extremo, se viesse uma agressão física, eu teria tempo de fugir, me esquivar ou, até mesmo me defender.

Mas, o principal, é que a calmaria e a observação foram importantes para o controle do meu Ego, não permitindo que eu criasse, a partir daquelas provocações, um conflito comigo mesmo. A verdade é que, quando reagimos a situações como esta, que podem acontecer, em maior ou menor grau de estresse na vida cotidiana, no trabalho, nas relações (de amizades, familiares ou amorosas), bem como mais diversos campos, entramos em conflitos conosco. Este é o cerne da questão. Quantas e quantas pessoas não se arrependeram de terem explodido com as outras?

É óbvio que existem situações mais complicadas, que envolvem agressões físicas, mas isso tema para a esfera criminal. No entanto, a mensagem que desejo levar é a seguinte: busque sempre a calmaria, torne-se observador de si, das pessoas e do mundo. Não brigue, não agrida com gestos e palavras, devolvendo o que estão fazendo com você, porque isso não será bom para sua vida.

Outro aspecto interessante é que, a calma, ao contrário do que os leigos e ansiosos acham, não é um estado de lerdeza, prostração, inércia, omissão, nem nada neste sentido. A calma é pura consciência, inteligência, faz com que usemos a nossa razão. A calma nos deixa alerta, aptos a raciocinar nas diversas situações, inclusive e principalmente nas adversas, tensas e urgentes. Já a emoção, sozinha, é apenas uma imensa porteira para Ego, para reações instintivas, impensadas e insanas.

Não reaja a provocações. Não se aborreça com isso, porque toda essa energia negativa vai acabar te contaminando, através da sua própria reação, porque será criado um conflito interno desnecessário. "Ah, mas eu não tenho sangue de barata!" Está é a alegação que muitas pessoas que reagem negativamente às mais diversas provocações usam para justificar suas atitudes irracionais. Não é uma questão de ter sangue se barata. É uma questão se usar a razão, algo que temos dentro de nós, mas que não despertamos.

Muitas pessoas se arrependem de reagirem a provocações, principalmente, quando perdem totalmente a razão, além dos limites das provocações que receberem. Podem notar que este arrependimento, que nada mais é do que uma reação da consciência e da razão, vem acompanhado de desculpas que essas pessoas dão para elas mesmas, para justificarem suas reações: falam das origens das nacionalidades de seus sangues, dos seus signos e, até mesmo, das entidades e divindades que acreditam influenciarem em suas reações.

A razão está em todos nós para ser usada. A emoção, sozinha, não presta para absolutamente nada e apenas nos degrada. A emoção, sozinha, torna a pessoa desatenta, incapaz de enxergar com clareza seu interior e o mundo a seu redor, deixando-a sem solução, ansiosa, insegura, angustiada e infeliz. A razão nos faz compreender nosso interior e o mundo a partir de nós. A razão faz com que nos situemos no tempo e no espaço, fazendo com que tenhamos bem definidos nossos propósitos.

E emoção é criadora de culpados e inocentes. A razão é motivadora de responsabilidades. Assim, quando uma pessoa reage a provocações que podem culminar em conflitos, ela encontrará culpados e inocentes, mas não buscará os responsáveis. Só que os conflitos, tem como responsáveis todos aqueles que deles participaram.

Particularmente, não acho que desaforos sejam levados para casa, quando não se reage a provocações. Acho que apenas não levamos os stress e os problemas dos outros para a nossa principal moradia, ou seja, nosso interior. Esta é a forma que desejo que as pessoas enxerguem e percebam situações como estas.

Desejo calmaria aos meus semelhantes, para que eles controlem suas mentes e passem realmente a pilotar suas vidas. Desejo que meus semelhantes coloquem mais razão em sua a vidas, que possam enxergar e pensar antes de falar ou agir. Não vou ficar aqui falando para que equilibrem razão e emoção, pois isso é clichê, está aí há anos, e nada resolveu. Direi apenas que, em todas as situações, a razão tem que vir na frente da emoção. E para tal, só com calmaria, e o consequente controle da mente, isso será possível.

Tudo que mencionei, está ao alcance de todos. Então, antes de refutar, reflita!

 

 

Por Marcelo