|
Quantas e quantas vezes vi e ouvi pessoas
aconselhando e/ou consolando outras, que estavam
sofrendo por problemas ou términos de relações
amorosas, dizendo: "olha, se você não se amar,
ninguém a amará" ou; "se você não se valorizar,
ninguém a valorizará".
Mesmo
reconhecendo que as intenções possam ser as
melhores, penso que este hábito instintivo que temos
não é bom, porque este tipo aconselhamento tenta
induzir a pessoa a se amar em função das outras e
não em função dela mesma. Esta espécie de
amor-próprio induzido, comprovadamente, não
funciona, principalmente com as mulheres. Isso,
porque, a pessoa precisa se amar e se valorizar por
ela mesma, em função dela. E isso, tenho que dizer,
só acontecerá quando ela conseguir chegar a esta
conclusão. Não tem outro jeito!
Sem adentar
às questões religiosas, mas a verdade é que somos
criados e condicionados a pensar no próximo antes de
nós mesmos e isso vale até para os familiares,
incluindo filhos e filhas. Sim, vivemos num sistema
que tem "excesso de próximo" e uma "escassez
tremenda de nós mesmos".
Toda essa
doutrinação, somada a outros tantos fatores da vida
cotidiana, reflexo de um modelo social perverso, nos
faz viver mais para fora do que para dentro. A
questão é que, quando se vive mais para fora do que
para dentro, vivemos mal fora e dentro. Já, quando
vivemos mais voltados aos nossos interiores,
viveremos melhor em todos os sentidos, criando
energias contagiantes, que serão compartilhadas com
todos aqueles que temos contato. O modo bom de se
viver é entender o mundo a partir de nós. E não o
que fazermos, que é tentar nos entendermos a partir
do mundo.
Geralmente, esses conselhos,
dizendo para a pessoa se amar e se valorizar em
função das outras, são dados justamente quando
alguém está passando por problemas de
relacionamentos amorosos ou até mesmo com o fim.
Certamente, este não é um momento que a pessoa está
aberta ao novo, mas sim um momento em que ela está
fragilizada, exposta, querendo desesperadamente
buscar qualquer coisa que possa aliviar seu
sofrimento, totalmente tomada pela ansiedade e pela
angústia.
Aliás, vamos combinar: estes tipos
de conselhos não servem para nada, não é mesmo? Você
fala para a pessoa se amar e se valorizar em função
da outra e, horas depois ou no dia seguinte,
constata que de nada adiantou. A pessoa processa o
conselho na mente, naquele momento libera hormônios,
se anima, mas, basta ela ficar só, que tudo se
perde.
As pessoas vivem muito em função das
outras, ainda mais nos tempos de hoje, com redes
sociais e suas enxurradas de baboseiras, que
tornaram as relações, e a vida propriamente dita,
cada vez mais liquidas. Se uma pessoa está sofrendo
com problemas ou término de uma relação amorosa, não
será com um, dois ou três conselhos que tudo se
resolverá. Ele terá que enfrentar e viver esta fase
e passar pelo que tiver que passar.
Existe
uma coisa chamada processo e, se uma pessoa deseja
realmente se amar, ela terá que passar por um
processo de despertar do amor-próprio, que não é tão
rápido e não é tão suave. Desculpem-me pelo que vou
falar: a pessoa pode ter até algum apoio, mas,
indubitavelmente, ela terá que passar por este
processo sozinha, ou seja, ela com ela mesma. Não
tentem fazer o contrário, pois já está comprovado
que não funciona.
Ela terá que buscar os
porquês dos seus sofrimentos. Quando se busca esses
porquês, descobre-se que ninguém está nos fazendo
sofrer e é duro compreender e ter que admitir que
tudo que estamos passando é de nossa inteira
responsabilidade e que, na esmagadora maioria das
vezes, fomos nós permitimos os acontecimentos, seja
por ação, seja por omissão.
Certa vez atendi
uma paciente que acabara de terminar um
relacionamento de anos. Ela estava sofrendo muito e
culpava o ex-namorado pelo seu sofrimento. Quando
perguntei os motivos do sofrimento, ela dizia que
foi porque ele a tinha deixado. E, quando eu falei
que ela não estava sofrendo por causa dele, mas sim
por causa dela, quase que ela desiste da sessão.
Ficou revoltada comigo. Mas, ela compreendeu e
aceitou os fatos.
Ninguém sofre por amor,
muito menos por causa de quem quer que seja, numa
relação amorosa que passa por momentos ruins ou que
tenha terminado. O sofrimento é nosso, é interno.
Somos nós quem nos preenchemos excessivamente de
coisas externas, pessoas e pactos de lealdade que,
quando saem das nossas vidas, causam vazios, nos
deixam perdidos e desesperados. Por amor, não se
sofre, porque amor é pura energia de felicidade.
O processo de se amar, de despertar o
amor-próprio, deve ser vivido intensamente. Osho
defendeu isso e eu concordo: devemos ir a fundo nos
nossos sofrimentos e medos, encará-los de frente,
senti-los, com consciência, até que possamos
entendê-los e enxergar que eles não são o fim e que
podem sim ser um começo.
Eis aqui o grande
ponto: nascemos com amor-próprio, ele está na nossa
natureza. Ocorre que vamos aprendendo, ao longo da
vida, a não o alimentar, vivendo para fora, não nos
priorizando, esquecendo da nossa essência, até o
ponto que ele adormece em nós, como é o caso da
esmagadora maioria das pessoas, principalmente com
as mulheres.
Geralmente, quem aconselha
alguém a se amar e se valorizar em função das
outras, no primeiro tropeço ou tombo, também passará
por sofrimentos, pelas mesmas razões aqui expostas.
Tudo é uma questão de ocasião e tempo. Afinal de
contas, quem não despertou seu amor-próprio, e vive
para fora, não terá muito que falar ou fazer.
Outra coisa importante de se frisar, é que a
pessoa que está sofrendo por causa de um
relacionamento, sabe muito bem onde seu calo aperta.
Ela sabe que precisa se amar e se valorizar. Aliás,
muitas sabem disso, mas poucas vão em busca do
despertar do amor-próprio.
Então, quando uma
amiga estiver passando por sofrimentos, pelos
motivos aqui tratados, minha sugestão é para que
você dê um abraço bem forte nela, sendo apenas
ouvinte e observadora. Deixe-a apenas falar, expor o
que vem de dentro dela, pois, quando uma pessoa
desabafa e expulsa o que está retido, paralelamente,
ele toma consciência dos porquês daquilo e passa a
encontrar caminhos/consciência por ela mesma. O
mesmo ocorre com quem ouve e observa, acreditem.
Aqui estou tratando de compartilhamento e não de
conselheiros.
Muitas mulheres me procuram por
causa de sofrimentos em relacionamentos. E eu sempre
digo que elas terão que passar por isso e que, o
primeiro passo, a primeira decisão, é buscarem a
calmaria interna para que possam sentir-se dentro
deste processo. Não tem outro jeito.
Falo que
a massagem ajuda muita a obter calmaria,
autoconsciência, autoconhecimento e amor-próprio.
Porém, ela é apenas um ponto de partida para as
mulheres se observem e se compreendam, a partir das
práticas e estímulos. A questão é que, a massagem e
seus efeitos, não serão suficientes, se elas não
enfrentarem a questão de frente, de peito aberto,
principalmente, sem Ego.
Para quem está
passando por algum sofrimento por causa de
relacionamentos, eu digo: viva o que precisa ser
vivido; sinta o que precisa ser sentido; faça isso
prestando atenção apenas em você, porque, todos os
sentimentos que você tem, são seus.
Ninguém,
sentirá o que você está sentindo: a tristeza e,
muito menos, êxtase da superação. Isso tudo pertence
você. Não mova seus sentimentos por ninguém. Mova-os
por você. Mova-os por amor a você. Se você passar
por tudo isso por você, as chances de despertar seu
amor-próprio, de forma consciente, serão enormes.
Não podemos confundir aquilo que aceitamos, com
aquilo que merecemos. Nesse sentido, é fundamental o
entendimento de que merecemos a felicidade e a
completude. Isso só é possível com amor-próprio.
O Mestre Osho nos deixou um ensinamento
importante: "Nascemos para atingirmos o êxtase,
a felicidade suprema, é nosso direito de nascença.
Mas as pessoas são tão tolas, nem mesmo exigem seus
direitos de nascença. Ficam mais preocupadas com
aquilo que os outros possuem e começam a correr
atrás dessas coisas. Nunca olham para dentro, nunca
procuram em suas próprias casas. Uma pessoa
inteligente irá começar sua busca a partir de seu
ser interior. Este será o ponto de partida de sua
exploração, porque a menos que eu saiba o que está
dentro de mim, como poderei sair procurando mundo
afora? O mundo é tão vasto. E aqueles que olharam
para dentro encontraram aquilo que buscavam. Não é
uma questão de progresso gradual, é um fenômeno
súbito, uma iluminação repentina."
Neste
texto eu trabalhei um exemplo. Mas, o seu conteúdo
pode ser aplicado aos mais diversos campos da vida.
Por Marcelo

|
|
|