Admitir o fracasso e ir fundo nele é fundamental para que assumamos nossas responsabilidades e tenhamos sucesso

 
       
 

O que trarei neste artigo faz parte do autoconhecimento, algo que está em moda e que as pessoas acham simples ou, para que seja algo vendável, passam a ideia de que seja fácil, quando, na verdade, não é:

Algo extremamente importante, que está no Tantra que eu acredito, pratico e defendo, vem sendo cada vez mais divulgado e ampliado por meio de artigos e livros: trata-se da assunção das responsabilidades que as pessoas precisam compreender, desenvolver e ter sobre suas escolhas ou renúncias.

Para quem não entra com profundidade no tema, pode até parecer que se trata de algo simples. Todavia, tenho que dizer, inclusive por experiência própria, que de simples isso nada tem. Passar a assumir responsabilidades pelas escolhas ou renúncias que fazemos, requer um grande enfrentamento do Ego, além de desafiar crenças, espiritualidade e aspectos religiosos com os quais a esmagadora maioria das pessoas foi doutrinada.

A questão é que, quando o Ego se mistura com essas doutrinas, o resultado é catastrófico. Então, o grande desafio para quem decide assumir suas responsabilidades é conseguir acreditar e ter fé em si, porque a assunção de responsabilidades é algo extremamente frio e seco, que não relação com outras pessoas. Trata-se de algo interno, exclusivamente nosso.

Quando se fala em assumir responsabilidades, trata-se de algo da pessoa com ela mesma. Não tem mais ninguém ou mais nada envolvido nisso. E este é o grande desafio. Já imaginou você não poder culpar ou responsabilizar alguém ou algo pelo seu fracasso? Já passou pela sua cabeça ter que admitir 100% que, por ação ou omissão sua, você fracassou?

Lembro que quando entrei no Tantra, falei para a pessoa que me orientava que meu negócio ia muito mal e que não compreendia o porquê do meu fracasso, já que entendia muito bem da atividade. Foi quando ele me disse que eu era um péssimo gestor. Ela estava coberta de razão. Óbvio que, naquele momento, meu Ego reagiu contrário ao que ele havia me dito, mas, com o tempo, percebi que realmente que não sabia gerir meu negócio e, com isso, vieram descobertas de outras falhas, algumas basilares, tal como não sabe precificar os serviços da empresa, porque, como péssimo gestor, não observava os custos.

O irônico disso tudo é que eu orava para dar certo, mas não fazia nada exato para que realmente desse certo. Eu apenas orava e me desesperava. Com o tempo, compreendi que, nesta questão de assunção de responsabilidades, mesmo com toda frieza e materialidade, minhas orações foram atendidas, porque, independente da forma como a coisa chegou em mim, percebi que não tinha capacidade de gerir meu próprio negócio e que deveria ter alguém que soubesse fazer isso por mim.

E afirmo que, se acreditar nisso tudo foi duro para mim e para o meu Ego, pior ainda foi quando o gestor que contratei apontou uma centena de falhas minhas e a verdadeira perseguição que sofri dentro da minha própria empresa para me adequar à nova ordem. Ou seja, tinha alguém mandando no meu próprio negócio, em mim e me chamando a atenção constantemente.

Dei um exemplo de negócios, que é para onde certamente essa onda de assunção de responsabilidade se encaminhará, talvez, tentando robotizar as pessoas, fazendo com que algumas aceitem o fato sem, no entanto, compreender o que precisa ser compreendido.

Falando agora de relações, é necessário termos em mente que, quando o assunto é relacionamento amoroso, sexo e prazer, a assunção de responsabilidades torna-se um tema ainda mais delicado, pois mexe muito mais com o Ego de homens e mulheres. Assim, é necessário entender que o Ego nos permite enxergar apenas nossas ações e que nossas omissões ele não leva em consideração. Só que, o fato de uma relação não ter sido boa, ainda que seja por ação de uma das partes, não significa que a omissão da outra deva ser ignorada.

É perceptível nas pessoas, por exemplo, principalmente no início das relações, não perceberem os sinais que as outras dão. Isso é o Ego! As pessoas se sentem tão bem com elas mesmas, ou melhor, com seus Egos bem acomodados, que não param para observar esses sinais. Um exemplo clássico são as primeiras crises de ciúmes. Naquele momento, elas alimentam o Ego e se tornam coisas lindas e fofas. “Nossa, ela(e) gosta de mim!” Gosta nada! Ela(e) gosta dela(e)! A questão é que muitas crises de ciúmes são crises de Ego e que, com tempo, pode virar o inferno da pessoa. Outro exemplo clássico é quando os problemas vão acontecendo e as pessoas vão passando por cima deles, dando chances e mais chances. O Ego é tão presente que permite que as pessoas se omitam, pois ele está sendo satisfeito.

E agora vem o pior, que é preciso ser dito e que, certamente contrariará muita gente: quando os tipos de omissão acima narrados ocorrem, uma pessoa não permanece com a outra por que a ama. O que a faz tolerar e se omitir não é o amor, mas sim uma satisfação interior movida pelo Ego. Só que o Ego é de responsabilidade de cada pessoa e para que ela admita isso, antes de tudo, terá que ter o mínimo domínio sobre ele.

Outra coisa complexa que preciso dizer é que, é impossível alguém não ter Ego. O Ego faz parte da nossa existência e, em determinados momentos, ele pode ser positivo sim. Como disse Osho, se alguém virar para você e falar que não tem Ego, pode acreditar, é o próprio Ego quem está falando aquilo.

O fracasso sempre dá sinais. Assim, não podemos permitir que o Ego nos cegue, seja em relação ao amor, seja em relação aos negócios, que foram dois exemplos que dei, ou seja em relação a tudo. Mesmo diante dos sinais, isso não quer dizer que estejamos livres do fracasso.

A assunção de responsabilidades, inevitavelmente, pede que admitamos que o fracasso faz parte das nossas vidas. Sim, não podemos negar o fracasso. Precisamos passar por ele; viver essas dores para que de fato possamos compreender melhor nossas vitórias. Admitir que o fracasso sempre está por perto, faz com que nos transformemos em seres atentos, que jamais se acomodarão. Isso, nada tem a ver com aceitar o fracasso; em ser um fracassado.

A compreensão do fracasso traz algo extremamente importante: parar de insistir naquilo ou em quem que não serve para nós. A questão aqui é que o Ego nos faz acreditar que somos bons em tudo, ou em quase tudo e que aquilo que o alimente está na medida exata para nós. Quando compreendemos o fracasso e enxergamos ele como uma possibilidade real, teremos controlado nosso Ego, o mínimo que seja.

O que vou mencionar agora é tema para outro texto, mas vou adiantar, porque tem a ver com o contexto: preocupa muito o fato de estarmos formando uma geração de pessoas vitoriosas, acostumadas a ganhar medalhas e troféus de participação em determinadas atividades, para exibir em redes sociais. Isso é muito perigoso, principalmente para adolescentes e jovens. É importante que saibam que o fracasso está sempre por perto e que ele vai acontecer muitas vezes.

Enfim, espero que essa onda de assunção de responsabilidades que estamos entrando, faça as pessoas entenderem que, sem controlar o Ego, sem admitir as reais possibilidades de fracassos, ninguém, em tempo algum, assumirá suas responsabilidades. Espero que, com Ego ou sem, as pessoas entendam que são responsáveis por suas escolhas e renúncias.

Aí, você que está lendo este texto pode me perguntar: Mas, Marcelo, você não está sendo muito duro? Não! Apenas estou sendo realista, pois todo processo requer esforço e enfrentamento das verdades pessoais, das quais vivemos fugindo. Só vamos adquirir autoconhecimento, quando enfrentarmos nossas verdades, mesmo que elas nos causem dores. Temos que ir fundo naquilo que nos cause dor, para entendermos o porquê da dor. Somos fruto dos meios que vivemos, das doutrinas que nos foram mostradas, de crenças que adquirimos. E a absorção disso tudo, a partir de determinada época da vida, é de nossa inteira responsabilidade.

Somos seres racionais e isso faz parte da nossa natureza. Então para que possamos evoluir, independente do campo da vida, precisamos encontrar razão, causa e efeito. Nossa espiritualidade está ligada à nossa racionalidade, assim como a matéria ao espírito. Tentar dissociar esses elementos, é o maior erro que podemos cometer. Pode ser que, por um tempo dê certo, porém, mais cedo ou mais tarde, nossa natureza prevalece e a vida nos obra um preço muito alto por isso.

Se você fracassou em algo, isso não quer dizer que você é uma pessoa fracassada. O que você precisa fazer é ir bem fundo naquilo que deu errado, viver de forma intensa e corajosa aquela situação e encontrar seus erros. Posso garantir que as pessoas vitoriosas mergulharam fundo em seus fracassos, assumiram seus erros, colocaram seus Egos no cantinho descansando e venceram!

 

 

 

Por Marcelo