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Somos condicionados
a ter alguém conosco, a ficarmos permanentemente no
controle e ter a posse sobre alguém para que sejamos
plenos e felizes. As histórias de "amor" e os
"romances" que nos oferecem e nos ensinam, desde
crianças, estão sempre atrelados a príncipes e
princesas. Somos programados para depender
emocionalmente de alguém na vida amorosa ou, até
mesmo, só para afirmarmos a nós mesmos e aos outros
que temos uma vida amorosa.
As literaturas
românticas não nos ensinam a ter um romance com nós
mesmos; não nos ensinam que o amor que devemos
oferecer em uma relação é o resultado
transbordamento do nosso amor-próprio; que uma
relação saudável, plena e feliz se dá entre pessoas
que amem a si antes de tudo todos para, apenas
depois, exteriorizarem e compartilharem seus
amores-próprios. É aquela história, somente
conseguimos compartilhar o que temos em nossos
interiores, porque tudo em nós vem de dentro.
Esse tipo de programação "romântica" que nos
imputam, aumenta sobremaneira nossas chances de
solidão e dependência. Não falo apenas de solidão
pelo término de uma relação. Falo de solidão durante
também, aquele vazio que sentimos quando não
recebemos o que esperamos ou achamos justo. Este
tipo de programação que nos imputam, nos transforma
em seres com muitas expectativas. Logo, somos seres
cobradores e ansiosos, retirando nossos equilíbrios
e a nossas harmonias, fazendo com que queiramos
estar no controle interferindo em tudo. E realmente
interferimos.
A partir do momento que
condicionamos a nossa felicidade em ter e manter
alguém ao nosso lado, estamos entregando tudo de
mais precioso que temos para outra pessoa. E não é
só a solidão que esse tipo de programação nos afeta.
Existe também a gangorra emocional que tudo isso
gera em nós durante a relação, as inseguranças no
sentido de não sabermos se a outra pessoa vai querer
permanecer ao nosso lado amanhã ou não. Tem também
os sentimentos de posse, os ciúmes, dentre outras
coisas negativas, que tudo isso gera dentro de nós,
que nos corrói diariamente e corrói quem está
conosco também.
Vejam que não estou pregando
aqui o fim dos relacionamentos, muito menos dos
romances. É muito bom ter alguém ao nosso lado (nem
acima, nem abaixo. Nem na frente ou atrás). Todavia,
é bom ter alguém ao lado, sem que tenhamos que
depender da pessoa emocionalmente, sem que ela
dependa de nós e sem que precisemos entregar nossas
felicidades a quem quer que seja. Numa relação que
envolve compartilhamento de amor-próprio, não ter o
controle é a melhor forma de controle sobre si.
As pessoas dizem que sofrem por amor. Esta é uma
colocação que eu realmente não gosto e jamais
concordarei. Ninguém sofre por amor. Sofremos é por
falta de amor-próprio; por um vazio que fica quando
alguém sai da nossa vida, porque não nos preenchemos
de nós mesmos. Osho sabiamente disse que ninguém nos
preenche, pois o preenchimento é interno. Amor só
causa felicidade. Falta de amor-próprio é que causa
tristeza.
Existe um ditado que diz: "quando
um não quer, dois não fazem". E ele reflete a
realidade de muitas mulheres e homens que estão
sofrendo neste exato momento pelo término de um
relacionamento, sentindo um imenso vazio,
sentindo-se perdidas, totalmente sem rumo e sem
equilíbrio. Pessoas que paralisaram suas vidas,
porque entregaram e condicionaram suas felicidades,
liberdades, equilíbrios e harmonias a outras pessoas
que, podem ou não ter vontade de estar ao lado
delas. E justo entregarmos nossas vidas; nossa maior
preciosidade, à vontade de alguém?
Nesta
programação desastrosa que temos, além dos
sentimentos negativos que surgem em nós, passamos a
criar regras para os relacionamentos serem
alimentados. Não apenas regras, mas a
obrigatoriedades de trocas socialmente
convencionadas e muito bem definidas. A mulher tem
que ser assim, o homem tem que se assado. A mulher
precisa fazer isso, o homem aquilo. A mulher precisa
ser de um jeito, o homem do outro.
A questão
é que tudo isso nos maltrata, porque, cada um de
nós, tem sua própria natureza, seus gostos, suas
preferências. Temos o dom de sermos únicos. Onde
está o respeito à individualidade nesse tipo de
relação? Tudo isso serve para construir apenas
relações pesadas e obrigacionais. Para piorar, todo
esse peso é jogado sobre o sexo e, com efeito,
deixando déficits enorme de prazeres e orgasmos, tão
necessários para nossas felicidades. E o que
acontece? Pessoas começam a buscar pequenos momentos
de êxtase em qualquer lugar, com qualquer um(a), por
vezes, desrespeitando suas energias sexuais. Ninguém
aguante ser sufocado e tolhido. A liberdade é uma
energia muito forte no ser humano. E ela sempre
prevalece, quer você queira, quer não. Não fuja dos
fatos, portanto. Não se engane!
Acredito que
a nossa capacidade de amar verdadeira e sincera
comece de dentro para fora. Em outras palavras, quem
não tem amor-próprio, não ama a si mesmo e não amará
ninguém. O Amor é uma energia que precisa ser
compartilhada. Ela não pode ficar retida em meio a
regras repressoras. Somos seres interdependentes e
isso é bem diferente de sermos dependentes uns dos
outros.
Quando somos dependentes de alguém,
estamos, literalmente, em risco. Nossa segurança,
nossa felicidade, nosso bem-estar, a nossa vida pode
estar nas mãos de outra pessoa. Dependência é
sinônimo de altíssimo risco. Já a interdependência
tem como sua base a convivência harmônica com as
outras pessoas, nos permitindo liberdade para que
sejamos quem somos, entendendo que este é um direito
delas também. E é óbvio que, pela educação que temos
desde criança, conseguir a interdependência é algo
que necessita de muita reflexão e entendimento
interno, num processo que leva tempo, mas com um
resultado maravilhoso para o interior de cada
pessoa. A interdependência só se adquire quando
aprendemos a ser independentes.
O amor é
a maior energia que podemos carregar dentro de nós,
um sentimento divino e puro. O amor não é criador de
regras, não é cobrador, não tem posse, não causa
vazios, dores, ansiedades, angústias, depressão e
nenhum outro tipo de sofrimento. O amor não pode ser
convencionado. O amor não pode ser dominado. O amor
não é dependente de nada nem ninguém. Então, quando
uma pessoa me diz que está sofrendo por amor, eu
afirmo que é justamente o contrário; que esse
sofrimento é falta por de amor, a começar pelo
amor-próprio.
Esse tipo de programação que
nos imputam está tão sedimentada nas pessoas, que
tem gente que termina uma relação é já está sofrendo
por medo de ficar só, diante de uma falta de
perspectiva momentânea de não ter alguém em vista
para se relacionar. Vejam o nível elevado de solidão
e dependência que tudo isso causa.
Uma
relação em que ambos transbordem seus
amores-próprios, é uma relação baseada em respeito
natural e não esse obrigacional que estamos
condicionados. Não há pacto de lealdade. O que há é
a fidelidade de cada um aos próprios sentimentos que
compartilham.
É uma relação que cada um sabe
o seu espaço e não invade o do outro. É uma relação
de diálogo em que ambos expõem suas
individualidades, suas preferências, seus gostos,
sonhos e desejos. É uma relação espontânea em que a
energia do amor flui pelas veias e artérias, sem que
encontre um trombo sequer para atrapalhar ou
obstruir sua livre circulação.
Egoísmos não
existem nesse tipo de relação. O Ego existe, mas não
domina. Não há competição. Ninguém é melhor que
ninguém. Não existem vazios. Não existe tédio, não
existe uma rotina imperando.
A confiança e a
segurança são naturais, pois existe a certeza de que
a outra pessoa está ali porque realmente quer, pois,
se ela se for, a felicidade continuará a imperar e o
amor-próprio não se cessará. A fidelidade é algo
natural, espontâneo, porque existe um prazer
incomensurável nela, em todos os sentidos.
Numa relação com amor-próprio transbordante, não há
dependências e dependentes. Não há cobranças e nem
cobradores. São duas pessoas naturalmente felizes
que se unem para intensificar ainda mais a
felicidade e o amor. É pura energia positiva que
flui. É puro prazer orgástico que toma conta, porque
o sexo passa a ser vivido e não feito. É uma relação
intensamente vivida em total liberdade física,
mental e espiritual. Nascemos para ser livres. A
liberdade é um dos nossos maiores bens.
Para
quem está numa relação ou está só, indico refletir
sobre o que estou trazendo neste texto. Não tome
isso como sua verdade. Apenas reflita e perceba como
seria sua vida em um tipo de relação espontânea e
leve assim. Reflita de verdade, deixando de lado
tabus, paradigmas e regras impostas pelo Senso
Comum.
O que eu prego é amor-próprio antes
de tudo e todos. O que eu prego é amor e felicidade.
O amor só vai fluir, se o deixarmos passar. Para
tal, as relações precisam de liberdade e leveza, sem
essa de certo e errado ou de proibido e permitido. O
importante é ser bom ou ruim. Se for bom, vá em
frente. Se for ruim, reflita!
Por
Marcelo

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