Mais amor-próprio e menos dependência. Por relações mais leves e felizes!
 
       
 
Somos condicionados a ter alguém conosco, a ficarmos permanentemente no controle e ter a posse sobre alguém para que sejamos plenos e felizes. As histórias de "amor" e os "romances" que nos oferecem e nos ensinam, desde crianças, estão sempre atrelados a príncipes e princesas. Somos programados para depender emocionalmente de alguém na vida amorosa ou, até mesmo, só para afirmarmos a nós mesmos e aos outros que temos uma vida amorosa.

As literaturas românticas não nos ensinam a ter um romance com nós mesmos; não nos ensinam que o amor que devemos oferecer em uma relação é o resultado transbordamento do nosso amor-próprio; que uma relação saudável, plena e feliz se dá entre pessoas que amem a si antes de tudo todos para, apenas depois, exteriorizarem e compartilharem seus amores-próprios. É aquela história, somente conseguimos compartilhar o que temos em nossos interiores, porque tudo em nós vem de dentro.

Esse tipo de programação "romântica" que nos imputam, aumenta sobremaneira nossas chances de solidão e dependência. Não falo apenas de solidão pelo término de uma relação. Falo de solidão durante também, aquele vazio que sentimos quando não recebemos o que esperamos ou achamos justo. Este tipo de programação que nos imputam, nos transforma em seres com muitas expectativas. Logo, somos seres cobradores e ansiosos, retirando nossos equilíbrios e a nossas harmonias, fazendo com que queiramos estar no controle interferindo em tudo. E realmente interferimos.

A partir do momento que condicionamos a nossa felicidade em ter e manter alguém ao nosso lado, estamos entregando tudo de mais precioso que temos para outra pessoa. E não é só a solidão que esse tipo de programação nos afeta. Existe também a gangorra emocional que tudo isso gera em nós durante a relação, as inseguranças no sentido de não sabermos se a outra pessoa vai querer permanecer ao nosso lado amanhã ou não. Tem também os sentimentos de posse, os ciúmes, dentre outras coisas negativas, que tudo isso gera dentro de nós, que nos corrói diariamente e corrói quem está conosco também.

Vejam que não estou pregando aqui o fim dos relacionamentos, muito menos dos romances. É muito bom ter alguém ao nosso lado (nem acima, nem abaixo. Nem na frente ou atrás). Todavia, é bom ter alguém ao lado, sem que tenhamos que depender da pessoa emocionalmente, sem que ela dependa de nós e sem que precisemos entregar nossas felicidades a quem quer que seja. Numa relação que envolve compartilhamento de amor-próprio, não ter o controle é a melhor forma de controle sobre si.

As pessoas dizem que sofrem por amor. Esta é uma colocação que eu realmente não gosto e jamais concordarei. Ninguém sofre por amor. Sofremos é por falta de amor-próprio; por um vazio que fica quando alguém sai da nossa vida, porque não nos preenchemos de nós mesmos. Osho sabiamente disse que ninguém nos preenche, pois o preenchimento é interno. Amor só causa felicidade. Falta de amor-próprio é que causa tristeza.

Existe um ditado que diz: "quando um não quer, dois não fazem". E ele reflete a realidade de muitas mulheres e homens que estão sofrendo neste exato momento pelo término de um relacionamento, sentindo um imenso vazio, sentindo-se perdidas, totalmente sem rumo e sem equilíbrio. Pessoas que paralisaram suas vidas, porque entregaram e condicionaram suas felicidades, liberdades, equilíbrios e harmonias a outras pessoas que, podem ou não ter vontade de estar ao lado delas. E justo entregarmos nossas vidas; nossa maior preciosidade, à vontade de alguém?

Nesta programação desastrosa que temos, além dos sentimentos negativos que surgem em nós, passamos a criar regras para os relacionamentos serem alimentados. Não apenas regras, mas a obrigatoriedades de trocas socialmente convencionadas e muito bem definidas. A mulher tem que ser assim, o homem tem que se assado. A mulher precisa fazer isso, o homem aquilo. A mulher precisa ser de um jeito, o homem do outro.

A questão é que tudo isso nos maltrata, porque, cada um de nós, tem sua própria natureza, seus gostos, suas preferências. Temos o dom de sermos únicos. Onde está o respeito à individualidade nesse tipo de relação? Tudo isso serve para construir apenas relações pesadas e obrigacionais. Para piorar, todo esse peso é jogado sobre o sexo e, com efeito, deixando déficits enorme de prazeres e orgasmos, tão necessários para nossas felicidades. E o que acontece? Pessoas começam a buscar pequenos momentos de êxtase em qualquer lugar, com qualquer um(a), por vezes, desrespeitando suas energias sexuais. Ninguém aguante ser sufocado e tolhido. A liberdade é uma energia muito forte no ser humano. E ela sempre prevalece, quer você queira, quer não. Não fuja dos fatos, portanto. Não se engane!

Acredito que a nossa capacidade de amar verdadeira e sincera comece de dentro para fora. Em outras palavras, quem não tem amor-próprio, não ama a si mesmo e não amará ninguém. O Amor é uma energia que precisa ser compartilhada. Ela não pode ficar retida em meio a regras repressoras. Somos seres interdependentes e isso é bem diferente de sermos dependentes uns dos outros.

Quando somos dependentes de alguém, estamos, literalmente, em risco. Nossa segurança, nossa felicidade, nosso bem-estar, a nossa vida pode estar nas mãos de outra pessoa. Dependência é sinônimo de altíssimo risco. Já a interdependência tem como sua base a convivência harmônica com as outras pessoas, nos permitindo liberdade para que sejamos quem somos, entendendo que este é um direito delas também. E é óbvio que, pela educação que temos desde criança, conseguir a interdependência é algo que necessita de muita reflexão e entendimento interno, num processo que leva tempo, mas com um resultado maravilhoso para o interior de cada pessoa. A interdependência só se adquire quando aprendemos a ser independentes.


O amor é a maior energia que podemos carregar dentro de nós, um sentimento divino e puro. O amor não é criador de regras, não é cobrador, não tem posse, não causa vazios, dores, ansiedades, angústias, depressão e nenhum outro tipo de sofrimento. O amor não pode ser convencionado. O amor não pode ser dominado. O amor não é dependente de nada nem ninguém. Então, quando uma pessoa me diz que está sofrendo por amor, eu afirmo que é justamente o contrário; que esse sofrimento é falta por de amor, a começar pelo amor-próprio.

Esse tipo de programação que nos imputam está tão sedimentada nas pessoas, que tem gente que termina uma relação é já está sofrendo por medo de ficar só, diante de uma falta de perspectiva momentânea de não ter alguém em vista para se relacionar. Vejam o nível elevado de solidão e dependência que tudo isso causa.

Uma relação em que ambos transbordem seus amores-próprios, é uma relação baseada em respeito natural e não esse obrigacional que estamos condicionados. Não há pacto de lealdade. O que há é a fidelidade de cada um aos próprios sentimentos que compartilham.

É uma relação que cada um sabe o seu espaço e não invade o do outro. É uma relação de diálogo em que ambos expõem suas individualidades, suas preferências, seus gostos, sonhos e desejos. É uma relação espontânea em que a energia do amor flui pelas veias e artérias, sem que encontre um trombo sequer para atrapalhar ou obstruir sua livre circulação.

Egoísmos não existem nesse tipo de relação. O Ego existe, mas não domina. Não há competição. Ninguém é melhor que ninguém. Não existem vazios. Não existe tédio, não existe uma rotina imperando.

A confiança e a segurança são naturais, pois existe a certeza de que a outra pessoa está ali porque realmente quer, pois, se ela se for, a felicidade continuará a imperar e o amor-próprio não se cessará. A fidelidade é algo natural, espontâneo, porque existe um prazer incomensurável nela, em todos os sentidos.

Numa relação com amor-próprio transbordante, não há dependências e dependentes. Não há cobranças e nem cobradores. São duas pessoas naturalmente felizes que se unem para intensificar ainda mais a felicidade e o amor. É pura energia positiva que flui. É puro prazer orgástico que toma conta, porque o sexo passa a ser vivido e não feito. É uma relação intensamente vivida em total liberdade física, mental e espiritual. Nascemos para ser livres. A liberdade é um dos nossos maiores bens.

Para quem está numa relação ou está só, indico refletir sobre o que estou trazendo neste texto. Não tome isso como sua verdade. Apenas reflita e perceba como seria sua vida em um tipo de relação espontânea e leve assim. Reflita de verdade, deixando de lado tabus, paradigmas e regras impostas pelo Senso Comum.

O que eu prego é amor-próprio antes de tudo e todos. O que eu prego é amor e felicidade. O amor só vai fluir, se o deixarmos passar. Para tal, as relações precisam de liberdade e leveza, sem essa de certo e errado ou de proibido e permitido. O importante é ser bom ou ruim. Se for bom, vá em frente. Se for ruim, reflita!


Por Marcelo